Antigamente que era bom. Antigamente, na pequena colina com saídas ladeira abaixo, um funcionário público nomeado pela SSP/PR para fazer o Registro Geral e outras funções era mestre e fazer as mulheres perderem sua identidade, colocar as mulheres em situações desconfortáveis, deixando-as sem ação ou reação. Hoje seria considerado um criminoso, a lei assim permite. Mas antigamente, o pai de família, que hoje se posiciona como um defensor de Deus, Pátria e Família era um aliciador e estuprador e aliciador de menores. Qualquer que fosse a oportunidade lá estava ele com seu pinto cor-de-rosa  de fora. Apresentava-se como uma pessoa absolutamente dócil, meiga, mas era um abusador. 

O Moinho da Aldeia, esse era seu nome - entendedores entenderão, moía as mulheres que dele se aproximava. Talvez eu fosse uma de suas presas prediletas. Me seduzia e, acostuma que era em ser abusada, lá ia eu ser moída.

Foram tantas as vezes que fui amassada pelo moinho que nem sei contar. Mas lá vai uma das vezes.

Talvez a primeira moída foi no dia em que eu, por volta dos meus 12 anos, brincava no pátio da antiga prefeitura da cidade e ele me chamou em sua sala. Eu tinha doze anos, mas ainda brincava na rua de bola, bets, queima e outras coisas. Sim, eu era bem infantil aos doze anos, abaixo da média de minha amigas que já se consideravam mocinhas e falavam em namoradinhos.

A sala ficava em um pavilhão de madeira com várias salas ao lado. Enquanto eu pegava minha bola ele brincou com meu apelido cantarolando a música Preta Pretinha dos Novos Baianos. Me chamando a atenção me atraiu para sua sala, me convidou para sentar na cadeira a frente do sua mesa de escritório. Ele, por sua, vez sentou-se do lado de dentro.  Ali conversávamos, quando percebi que ele estava ficando vermelho e um pouco frenético. A princípio não entendi o que estava acontecendo, mas aos poucos deixou aparecer seu pinto cor-de-rosa aparecer e então percebi o que estava acontecendo. Não sabia o que fazer, fiquei ali parada, nem me lembro se interagia com o que me dizia.

O tempo passou, terminei o ginásio. Hora de começar o Segundo Grau. Lá estava o Moinho da Aldeia na mesma sala que eu. Todo simpático com todo mundo, cheio de piadinhas maliciosas e conselhos para as meninas e os meninos, nem parecia um tarado, doente.

Um detalhe importante é que desde quando eu tinha doze anos ele já era casado. Agora no Segundo Grau, além de casado era também pai de família. Mas nada tinha mudado: continuava um estuprador.

Minha segunda moída se deu dentro de minha casa. Ficamos no mesmo grupo para fazer um trabalho escolar. Como eu era amiga de sua irmã mais nova acabamos ficamos no mesmo grupo. Lá estávamos nós ao redor da mesa executando as tarefas do trabalho. Não me lembro quem estava no grupo. Sei que tinha mais alguém além de sua irmã. Eu e esse alguém ficamos por um momento só com o Moinho. Todas animadas confraternizando o trabalho quando de repente acompanho o braço do moinho e lá estava ele com o rolo cor-de-rosa na mão. Senti que um buraco se abriu, mal pude me sentir. Olhei para a outra pessoa com muita vergonha. Nada falamos sobre o caso e a vida seguiu comigo sempre fugindo da proximidade com o cidadão.

Mas, como a vida não é cor-de-rosa, um dia tive que tirar meu Registro Geral. Eu lá com meus 16 anos tendo que carimbar meus dedos em papeis oficiais. Foi ali que a situação foi mais caótica. O Moinho no ato de carimbar meus dedos nos papéis se posicionou atrás de mim e ficou se esfregando na minha bunda. Minha reação: nenhuma, apesar do ódio que me comeu por dentro. Fui acometida por uma vergonha monstro e só pensava se alguém tinha visto aquela cena.

Como nem tudo é cor-de-rosa um dia o Moinho da Aldeia foi desmascarado. Foi aí que fiquei sabendo de fato que não era a única a ser moída pela estuprador. Foi fazer coisas parecidas com outra menina, mas os tempos já eram outros. As mulheres estavam mais empoderadas e a menina contou para seu pai que tentou matar o Moinho da Aldeia. A situação repercutiu não só na cidade, mas também no noticiário regional. 

Entretanto, até hoje a cidade faz aquele silêncio sobre o caso. Ninguém fala, ninguém viu, ninguém foi moída pelo estuprador. O estuprador atualmente é um velho caquético, de extrema direita bolsonarista e veio me assediar nas redes sociais. Eu devor ter me masturbado nos pés da cruz, não é possível.

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